ILHA DAS FLORES — PULAU FLORES
Além de nome de ilha açoriana, entre outros casos, Flores é o nome duma ilha da Insulíndia — o arquipélago malaio-indonésio. Pertence à República da Indonésia e faz parte do subarquipélago das Pequenas Ilhas de Sonda (Kepulauan Nusa Tenggara), onde também se inclui Timor. Sob domínio holandês e após na Indonésia independente, a ilha das Flores manteve o nome português: Pulau (ilha) Flores. Com 13.540 km², a ilha das Flores é a segunda maior do grupo que inclui Timor, Alor, Solor e Pantar. A ilha das Flores foi uma das possessões portuguesas na região, entre os séculos XVI e XIX. O nome da ilha deriva do que foi dado ao Cabo das Flores, na parte oriental da ilha. O nome original terá sido Nusa Nipa (Ilha das Serpentes). O Mar das Flores, entre as Pequenas Ilhas da Sonda e as Celebes (Sulawesi), também manteve o nome português na nomenclatura indonésia: Laut Flores.
Em 1840, no reinado de D.ª Maria II, o intendente da Marinha e do Arsenal em Goa, José Joaquim Lopes de Lima, foi nomeado governador interino da Índia Portuguesa. O seu governo foi tirânico, criou impostos à revelia do governo nacional e, ainda assim, duplicou a dívida da colónia. Em 1842, após enfrentar uma revolta, foi obrigado a fugir para Bombaim, onde nem os ingleses o ajudaram.
Apesar de tudo, em 1851, o ex-governador da Índia foi nomeado governador de Timor, que na altura incluía as ilhas vizinhas. Ignorando mais uma vez o governo nacional, Lopes de Lima repete a receita de endividamento das colónias à revelia de Lisboa. Para remediar a situação decidiu vender aos holandeses as ilhas das Flores, Alor, Solor e Pantar, por cerca de 200 mil florins, sem dar conhecimento do governo do reino. Só não vendeu Timor, mas esta ilha acabaria por ser dividida com os holandeses pelo Tratado de Lisboa de 1859.
Devido à sua ação, Lopes de Lima foi demitido e o seu substituto foi para Timor com ordens para prendê-lo e mandá-lo para Lisboa. O ex-governador acabou por falecer antes de regressar a Portugal, mas o mal estava feito e a venda das ilhas não foi revogada. Pelo tratado de 1859 com os holandeses, Portugal ficou com a sua presença na região reduzida a metade de Timor.
A ilha das Flores foi ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra mundial, tal como outras ilhas do arquipélago. A República da Indonésia tornou-se independente dos Países Baixos após a guerra e incluiu nos seus domínios a ilha das Flores, as ilhas vizinhas e a metade holandesa da ilha de Timor.
Os habitantes ilha das Flores têm influência genética, religiosa e cultural malaio-indonésia, melanésia e portuguesa. A Indonésia é o país muçulmano mais populoso do mundo, mas na ilha das Flores manteve-se a religião católica deixada pelos missionários portugueses. É a única ilha indonésia com maioria católica: dos cerca de um milhão de habitantes das Flores, 85% são católicos. A Semana Santa é celebrada como em Portugal e ainda há a tradição de rezar em português. Subsiste alguma influência da língua portuguesa, para além do próprio nome da ilha; por exemplo a Confraria de Nossa Senhora do Rosário, que mantém as tradições religiosas, chama-se Confreria Reinha Rosari; o arcebispo de Ende, nas Flores, de 1996 a 2006, foi o indonésio Longinus da Cunha; o bispo de Maumere, também na ilha, chama-se Gerulfus Kherubim Pareira.
O Homo floresiensis foi um hominídeo que viveu nas Flores há cerca de 13 mil anos. Os seus restos foram descobertos em 2003 nesta ilha.
(Texto publicado originalmente em https://salvador-nautico.blogspot.com/2015/05/ilha-das-flores-indonesia.html)