04 janeiro 2025

CONSTÂNCIA

CONSTÂNCIA

Vila e concelho do Ribatejo, Portugal, anteriormente chamada Punhete.

«A povoação da foz do Zêzere, que D. Sebastião elevou à categoria de vila e à dignidade de concelho, desanexando o seu termo do da vila de Abrantes, por carta de sentença de 1571, era chamada Punhete desde os primórdios da nacionalidade. (...)

Embora levante muitas dúvidas, a justificação etimológica que costuma ser dada para o nome Punhete, que a aldeia e depois vila teve durante mais de meio milénio, é que terá ele derivado da designação que os Romanos, muitos mais séculos atrás, davam à povoação: Pugna Tagi, que quer dizer "luta do Tejo", numa alusão ao violento conflito que ocorria, em especial no inverno, entre as turbulentas águas do Zêzere (onde ainda não havia barragens…) e as do manso mas imponente Tejo. De Pugna Tagi terá então derivado Punhete.

Ora, como é bom de ver, não gostava o povo do nome que a vila tinha e que, por sugerir obscenidade, era muitas vezes motivo de troça por parte de gentes de outras terras quando maliciosamente se referiam "aos de Punhete…" Por esse motivo, resolveu a Câmara Municipal de Punhete, a seguir às guerras liberais, representar à rainha pedindo-lhe que mudasse o nome da vila. Não consta que tenha avançado alguma sugestão de novo nome: verdadeiramente só se queria ver livre do malfadado Punhete que, sem memória já do Pugna Tagi dos Romanos e do que ele significava, apenas era então, naquele tempo do século XIX, motivo de escárnio e de maledicência.

E a rainha fez a vontade ao povo. E deu à vila o nome de Constância. Em 1836 – 7 de dezembro. (...)

As razões da mudança são claramente apontadas no texto do decreto real: D. Maria II, grata aos "honrados habitantes da vila de Punhete" pelo apoio que lhe tinham dado, três anos antes, na luta contra os absolutistas, decidiu mudar-lhe o nome para Constância. Foi, pois, "a constância da gente" de Punhete no apoio à causa liberal que lhe valeu o belo nome que a vila tem agora.

Mas a rainha fez mais: distinguiu a vila com o honroso título de "Notável", que passou assim a designar-se "Notável Vila da Constância". "Da" e não "de", como depois o tempo e o uso acabaram por corromper e consagrar. É que, em 1836, estava muito presente a memória "da constância" com que os habitantes de Punhete apoiaram a causa liberal durante a guerra civil.

Com a rainha assina o decreto o ministro do reino Passos Manuel, figura cimeira do movimento setembrista, vitorioso meses antes, que então governava o país. Passos Manuel, embora tivesse nascido no norte, foi no Ribatejo que viveu a maior parte da sua vida adulta. Casou com uma senhora de Constância, D. Gervásia de Sousa Falcão, filha dos Falcões da vila, uma família de grandes proprietários agrícolas, das mais ricas e poderosas da região. E viveu alguns anos na belíssima casa apalaçada do Largo Avelar Machado, morada de tanta gente ilustre de Constância, que é agora a Casa-Museu Vasco de Lima Couto. A mudança do nome da vila, com tudo o que ela significava e a palavra "Constância" traduzia, não foi, evidentemente, estranha à figura de Passos Manuel, cuja influência política terá sido decisiva nesse sentido.»

Excerto de texto de António Matias Coelho, em https://mediotejo.net/cronica-de-punhete-a-constancia-por-antonio-matias-coelho/

«Uma muito antiga tradição de Constância, passada de geração em geração, afirma que Camões aqui terá vivido durante algum tempo, em cumprimento de uma pena a que fora condenado, apontando umas ruínas à beira do Tejo como tendo sido a casa que acolheu o épico.»

Não confundir com:

- Constance, Douro Litoral, Portugal.
- Constantina, Argélia.
- Constantina, Rio Grande do Sul, Brasil.

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